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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ancestralidade 


Culto aos Antepassados - os Egúngún
Os Yorubá, assim como os demais povos africanos, crêem na existência ativa dos antepassados.  Para eles a morte não representa simplesmente o fim da vida humana, mas a vida terrestre que se prolonga em direção à vida além-túmulo, em algum dos nove espaços do òrun (céu), no domínio dos seres desprovidos do èmì (O sopro da vida).   Assim, a morte não representa uma extinção, mas a mudança para uma outra fase.
A morte é denominada Ìkú, e trata-se de uma divindade masculino.  Ìkú (a morte), é visto como um agente criado pôr Olódùmarè para remover as pessoas cujo tempo no àiyé (terra), tenha terminado.  Sua lógica é para as pessoas mais velhas, que devem viver até uma idade avançada.  Pôr isso , quando uma pessoa jovem morre, o fato é considerado tragédia;  pôr outro lado, a morte de uma pessoa idosa é motivo para se alegrar.  
Para os Yorubá, existe um mundo em que vivem os homens em contato com a natureza, o nosso mundo, dos vivos, que eles chamam de àiyé (terra) e um mundo sobrenatural, onde estão os òrìsà, outras divindades e espíritos, e para onde vão os que morrem, mundo que eles chamam de òrun (céu).  Quando alguém morre no àiyé, seu espírito, ou uma parte dele, vai para o òrun, e de onde pode retornar ao àiyé, nascendo de novo, reencarnando. Os espíritos retornam à vida, na comunidade familiar tão logo possam.  Os espíritos dos mortos ilustres (reis, heróis, grandes sacerdotes, fundadores de cidades e de linhagens nobres) são cultuados e se manifestam nos festivais de Egúngún no corpo de sacerdotes mascarados, quando transitam entre os humanos, julgando suas faltas e resolvendo as contendas e pendências de interesse da comunidade.  A  família é o suporte fundamental, e guardiã das regras necessárias para a conduta individual e coletiva, a espiritualidade impregna a comunidade, o homem, as coisas, a natureza, e é um código cuja a aplicação é zelada pelos Àgbà (anciões), que desempenham papel de biblioteca viva no sentido de sabedoria ancestral, toda esta ordem da vida comunitária é regulada e mantida também através dos Egúngún que nestes casos atuam como fiscalizadores da família e do bom andamento da vida.    
O encaminhamento do espírito, depois dos rituais realizados, corresponde a passar de volta pelo portão de Oníbodè (porteiro do céu) em direção a Olódùmarè, para receber o julgamento de seus atos na terra. De acordo com o òrun ao qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares, agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele continuam a se referir como bàbá mi (meu pai), ou ìyámi (minha mãe). 
Ao seguirem para o òrun, os ancestrais são libertos de todas as restrições impostas pela terra;  dessa forma, adquirem potencialidades que podem ser usadas para beneficiar seus familiares que ainda estão na terra. Pôr essa razão, é necessário mantê-los num estado de paz e contentamento.
Quando dissemos que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que uma manifestação de relacionamento familiar indestrutível entre o membro da família que partiu e seus descendentes que aqui ficaram.  
O Òrun (céu) é dividido em espaços para acomodar todos os tipos de espíritos. São em número de nove, segundo as tradições Yorubá:  
Òrun Alàáfià: Espaço de muita paz e tranqüilidade, reservado para pessoas de gênio brando, ou índole pacífica, bondosa, pacata.
Òrun Funfun: Espaço do branco e da pureza, reservado para os inocentes, sinceros, que tenha pureza de sentimento, pureza de intenções.
Òrun Bàbá Eni: Espaço reservado para os grandes Sacerdotes e Sacerdotisas.
Òrun Aféfé: Espaço da aragem, reservado para as oportunidades e correção para os espíritos, possibilidades de reencarnação, volta ao àiyé.
Òrun Ìsòlú ou Àsàlú: Espaço reservado para o julgamento por Olòdùmarè para decidir qual dos respectivos òrun o espírito será direcionado.
Òrun Àpáàdì: Espaço reservado para o lixo celestial, das coisas quebradas, para os espíritos impossíveis de serem reparados e restituídos à vida terrestre.
Òrun Rere: Espaço reservado para aqueles que foram bons durante a vida.
Orun Burúkú: Espaço ruim, quente como pimenta", reservado para as pessoas más.
Òrun Mare: Espaço reservado para aqueles que permanecem, tem autoridade absoluta sobre tudo o que há no céu e na terra e são incomparáveis e absolutamente perfeitos, os supremos em qualidades e feitos, reservado a Olódùmarè, todos os Òrìsà  e divinizados.
Os mortos são encaminhados a um desses espaços após o fator decisivo do julgamento divino.  O juízo final fica a cargo de Olòdùmarè, decidindo quais são os bons e quais são os maus, e os encaminham para o respectivo òrun.  O julgamento é baseado nos atos praticados na terra e devidamente registrados no Orí inú, que retorna para Olódùmarè. 
Somente quando se é absolvido pôr Olódùmarè é que se tem a oportunidade de reunir-se com seus ancestrais, podendo-se reencarnar e nascer dentro da mesma família.
Se alguém, porém, é condenado, vai para o Òrun Àpáàdi, onde irá sofrer com os maus.  E quando finalmente for libertado, não terá a oportunidade de viver uma vida normal, será condenado a errar, pôr lugares solitários.
Através do culto aos ancestrais, os Egúngún, é  reconstruída a origem, etnia e memória.  Essa memória, enraizada na herança africana, cresce com força total, a ancestralidade mítica e histórica, marca a existência de uma forte comunidade. É na memória e no culto aos antepassados  que essa comunidade se afirma.  O místico e o sagrado  manifestam-se através  de um complexo sistema  filosófico e simbólico  que se expressam através de uma rica liturgia.  Neles se continua e se renova o culto  das entidades sagradas, a tradição  dos òrìsà e dos ancestrais ilustres, Egúngún.
Além da Sociedade Gèlèdè , existe também na Nigéria a Sociedade Orò.  Orò é uma divindade  considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Ìyámí quanto Orò são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade.  Outra forma de culto aos ancestrais masculinos é através da  "Sociedade Egúngún".  Esta têm como finalidade celebrar ritos a homens que foram figuras destacadas em sua sociedade ou comunidade quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada.
Egúngún é a materialização da morte sob tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial.
Em sua comunicação com os seus familiares ele usa uma voz forte e grossa,  denominada de séègì, não podemos esquecer que a palavra é a memória viva na África, afinal a tradição oral é a grande escola da vida , é através dela que os Egúngún se comunicam com seus descendentes, e transmitem seus ensinamentos, pois quando morre um ancião, é como se uma grande escola se perdesse.
A aparição dos Egúngún é cercada de total mistério.  O Egúngún simplesmente surge  causando impacto visual e usando a surpresa como rito.

Trabalho de pesquisa a vários autores:
- Willian Bascon
- Wande Abimbola
- Vários sites sobre o assunto.




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