ÀSÈSÉ
O rito funerário
denominado àsèsé, é o desfazer de laços e compromissos e a
liberação das partes espirituais que constituíam a pessoa que morreu. É uma cerimônia onde se faz a ruptura de
todos os objetos sagrados com o morto.
O àsèsé
é a última homenagem para o morto. É
nesse ritual que ao mesmo tempo que o morto é aceito entre os ancestrais que se
foram antes dele, é feita a liberação do orí, pelo òrìsá, que retorna
para o òrun.
Morrer é ir e voltar,
dentro da ótica africana da realização da vida. Nascemos de novo porque é aqui que
realizamos e plantamos o àse para que o planeta Terra tenha
continuidade.
O corpo do morto volta
à terra para ser transformado em matéria prima para novos seres humanos.
A
morte é transitória, porque o termo morrer, não tem grande sentido, pois se tem
a consciência que ela representa apenas um pulo de uma vida para outra, cujo
mistério e segredos só Obàtálá é
sabedor.
Nas mais diferentes
culturas, a morte está contida na própria concepção da vida e ambas não se
separam. Os Yorubá e outros grupos africanos que formaram a base cultural das
religiões afro, acreditam que a vida e a morte alternam-se em ciclos, de tal
modo que o morto volta ao mundo dos vivos, reencarnando em um membro da própria
família.
Para os Yorubá,
existe um mundo em que vivem os homens em contato com a natureza, o mundo dos
vivos, que chamam de àiyé, e um mundo sobrenatural, onde estão os òrìsá,
outras divindades e espíritos, e para onde vão os que morrem, mundo que chamam
de òrun. Quando alguém morre no àiyé, seu espírito, ou
uma parte dele, vai para òrun, de onde pode retornar ao àiyé nascendo de
novo, reencarnando.
Os espíritos dos
mortos ilustres (reis, heróis, grandes sacerdotes, fundadores de cidades e de grandes
linhagens) são cultuados e se manifestam nos festivais de egungun no corpo de sacerdotes
mascarados, preparados para esse tipo de ritual.
Na concepção Yorubá,
existe o corpo material, que eles chamam de ara, o qual com a morte decompõe-se e é reintegrado à natureza,
mas, em contrapartida, a parte espiritual é formada de várias unidades, cada
uma com existência própria.
As unidades
principais da parte espiritual são:
- o sopro vital ou èmí;
- a
personalidade-destino ou orí;
- a identidade
sobrenatural ou identidade de origem que liga a pessoa à natureza, que é o òrìsá
de cada um ;
- o espírito
propriamente dito ou egun.
Cada parte precisa
ser integrada no todo, que forma a pessoa durante a vida, tendo cada uma delas
um destino diferente após a morte.
O èmí, sopro vital que vem de Olódùmarè, dado por Obàtálá e que está
representado pela respiração, abandona o corpo material na hora da
morte, sendo reincorporado à massa coletiva que contém o princípio genérico e
inesgotável da vida, força vital cósmica do deus-primordial, Olódùmarè.
O orí, que contém o destino escolhido
no òrun antes de nascer, que aprendeu e evoluiu na vida, com a morte, acompanha
o espírito para òrun, para que possa ser preparado para reencarnar, para
uma nova vida.
O òrìsá é
retirado após a morte, liberando o orí para voltar para òrun,
acompanhando o espírito.
Com a morte, estes
ritos são feitos, para liberar essas unidades espirituais, de modo que cada uma
delas chegue ao destino certo, restituindo-se, assim, o equilíbrio rompido com
a morte.
O rito fúnebre denominado
àsèsé, tem como principais fins,
desfazer o Igba Orí, desfazer os vínculos com o òrìsá pessoal para o
qual foi iniciado, desfazer os vínculos com toda a comunidade da terra, despachar o egun do morto, para que ele deixe o àiyé e vá para o òrun, livre para ser preparado para reencarnar.
Trabalho por :
Erelú Iyá Òsún Fatima Gilvaz
Referências
bibliográficas:
T'Ogun, Altair B. Oliveira. Àsèsé O reinicio da vida
BABAYEMI, S. O. Egungun among the Oyo Yoruba.
PRANDI, Reginaldo.
Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo, Hucitec
e Edusp, 1991.
Herdeiras do axé:
sociologia das religiões afro-brasileiras. São Paulo, Hucitec, 1996
SANTOS, Juana Elbein
dos. Os nàgó e a morte. Petrópolis, Vozes, 1976.
SANTOS, Maria Stella
de Azevedo. Meu tempo é agora. São Paulo, Odudwa, 1993.
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