A
TRINDADE DE OBÀTÁLÁ, ESÚ E ORÚNMILÁ
A trindade constituída
de Obàtálá, Esú e Orúnmilá exemplifica, no plano filosófico, o provérbio
Yorubá em que a tríplice garante a estabilidade. No esforço para esta
estabilidade filosófica o homem foi ensinado pelo oráculo Ifá a observar a
retidão ética de Obàtálá, alegar o elemento imprevisível da vida representado por Esú e
confrontar os problemas com a sabedoria de Orúnmilá. Essa é a mensagem abstrata
atrás dos mitos e legendas do papel da trindade recontada pelos versos de Ifá.
Este verso de
Eji-Ogbe reconta o reconhecimento de status supremo de Obàtálá e o inicio
discreto da trindade de Obàtálá-Esú-Orúnmilá.
“Não há águas que
possam rivalizar com o Oceano na majestade.
Não há nascentes nas montanhas que possam se igualar a Lagoa em grandeza".
Não há nascentes nas montanhas que possam se igualar a Lagoa em grandeza".
Assim declarou o
oráculo de Ifá para Obàtálá, o Ancião dos Dias, no dia em que ele foi dotado
com o poder criativo. Outras divindades exigiram um compartilhamento deste
poder, exceto Orúnmilá e Esú.
No verso a seguir
veremos Obàtálá conferido com o poder Criativo e veremos a rivalidade de outras
divindades que queriam um pouco do poder. "Orúnmilá foi convidado para a
trama, porém, ele recusou. Esú
também foi chamado, porém, também
recusou. Desta vez as divindades perderam a batalha para Obàtálá e
imediatamente concederam preeminência eterna para ele".
A próxima estrofe
Irete-Meji revela que a recusa de Orúnmilá e Esú para se agregar na
conspiração contra Obàtálá não foi sem benefício calculado. Desassociando-se das outras divindades, Orúnmilá e Esú se auto promoveram a uma
co-igualdade com Obàtálá em
uma Trindade.
Dois personagens: “Emissário da Terra” e “O criador da cidade de
Ifé” foram os regulares mensageiros de Orúnmilá para Olódùmarè, o Onipotente.
A mensagem para o
Onipotente talvez seja “com o estado das coisas em Ifé hoje, que sacrifícios
devo apontar como remédio?”
A resposta viria:
“Ofereça um rato do mato.”
Atuando nestas
recomendações Orúnmilá receberia bons auspícios para a cidade e tudo tornaria a
ficar bem. Mas assim que o tempo passou,
as coisas mudaram. Quando o Onipotente disse que uma cabra
deveria ser oferecida, estes mensageiros
reportaram a Orúnmilá que um cordeiro deveria ser oferecido. O sacrifício
resultaria em falha. O
que seria responsável por estes eventos?
Se perguntou Orúnmilá, não sendo
cúmplice da traição dos seus mensageiros. Eventualmente, a verdade apareceu, porém Orúnmilá
nada disse. Ele apenas impediu os
mensageiros de enviarem ainda mais solicitações ao Onipotente.
Um dia, sem
noticias, no curso normal de uma consulta
divinatória Orúnmilá de repente apreendeu os mensageiros e matou os
dois.
Quando os cidadãos
de Ifé descobriram a ação de Orúnmilá, eles ficaram chocados. Como pode Orúnmilá ter
matado seus mensageiros cujos recados para o Onipotente sempre trouxeram
prosperidade à Ifé? Quando Orúnmilá
conseguiria substituir os mensageiro por outros melhores ou de iguais serviços?
Orúnmilá respondeu
que o problema estava longe de ser simples, que a verdade iludiu os cidadãos.
Os cidadãos
furiosos tornaram-se duros e no final sitiaram na casa de Orúnmilá. Orúnmilá, os mandando para longe, se
escondeu.
Os invasores irados
armaram contra o estudante de Ifá de Orúnmilá chamado Imulegbe (O Adepto) e
bateram severamente nele.
Eles acharam outro
convidado Akale (O Protetor da Casa) e o tapearam muitas vezes, então retornaram para Imulegbe
para rasgar suas roupas em pedaços.
Nisto, Orúnmilá apareceu
para desafiar os agressores: Então não há mais respeito ou reverência por mim
nesta cidade? Vocês, cidadãos de Ifé,
não prosperaram sob minha orientação? É
correto que os meus convidados sejam tão maltratados por vocês?
Em uma grande
fúria, Orúnmilá deixou a cidade rapidamente, seguido prontamente de Imulegbe e
Akale. Contudo, antes de deixar Ifé, Orúnmilá ordenou todos os adivinhos de lfá,
incluindo os que empregam três, quatro, oito ou dezesseis búzios a recusar a
consulta para os cidadãos devorantes de Ifé. Assim, os cidadãos de Ifé iriam aprender quão
fácil é administrar seus próprios
assuntos sem a orientação dos adivinhos.
Tendo deixado Ifé, Orúnmilá
e seus dois amigos viajaram profundamente dentro da floresta até que chegaram
“No Meio do Nada” e eles construíram três cabanas de colmo com folhas de
palmeira: Uma para Akale (Codinome de Esú) e a segunda para Imulegbe, um
outro nome para Obàtálá e a última para Orúnmilá.
Com a partida de Orúnmilá,
a cidade de Ifé ficou engolida de problemas. Os alimentos tornaram-se escassos,
mulheres grávidas sentiram as dores do parto mas não conseguiram parir; As
recém casadas não conseguiram engravidar; Os homens se tornaram impotentes. Em pouco tempo a desordem e a confusão
reinaram. Os cidadãos consultaram os
adivinhos de 3,4,8 ou 16 búzios para ver como o desastre poderia ser detido
mas, os adivinhos, responderam que todos os seus pedidos não poderiam ser
satisfeitos uma vez que seus búzios usados para adivinhação foram completamente
gastos em dias de necessidades. O que eles fariam? Onde se escondiam as
soluções?
O próprio Rei de
Ifé estava perplexo e perdido com as condições da cidade que só pioravam a cada
dia.
Não choveu e tudo
começou a ficar parado, então os cidadãos levaram os problemas mais a sério e
viajaram para fora de Ifé para solicitar assistência em qualquer lugar possível.
Primeiro conheceram
um adivinho cujo apelido era “Caranguejo que se arrasta em buracos no pântano
longe dos habitantes aquáticos”. Ele rejeitou a consulta do Oráculo em seu nome
alegando a injunção imposta a ele por Orúnmilá seu mestre que antes deixou Ifé. ”Mas nós não sabemos onde está seu mestre”
responderam os cidadãos. “O que
deveríamos fazer para sair dessa situação desesperadora?”
Tendo pena de seus apuros o adivinho
aconselhou-os a caçar um antílope e trazer para ele, depois ele os apresentaria
outro adivinho. Os cidadãos cumpriram muito prontamente. Então, eles foram despachados para outro
adivinho cujo apelido era “Cor de Ouro assim como Óleo Fresco de Palmeira”, que
foi esperado para levá-los até o esconderijo de Orúnmilá. Depois de ter escutado suas predicações o
adivinho exclamou:
“Isso é realmente
verdade? Oras, então vá buscar um
antílope e traga-o para mim.”
Os cidadãos se
aprontaram e depois de um tempo acharam um antílope o qual eles perseguiram até
o alto da colina, abaixo dos pequenos vales. Cada vez mais fundo floresta a dentro a
perseguição continuou, até que os cidadãos se acharam “No Meio do Nada” quando
de repente o antílope desapareceu. Procurando pelo antílope perdido, os
cidadãos logo avistaram três cabanas de colmo com folhas de palmeiras.
Completamente
assombrados eles disseram a eles mesmos: “Que lugar mais deserto para se
escolher como habitação! Como pode alguém
morar aqui quando, em Ifé, nós estamos morrendo de fome?”
Um deles pegou uma
pedra e arremessou-a em uma cabana. Saiu de lá Akale (Esú) perguntando
com irritação “Quem arremessou esta pedra
em minha cabana?”
“Fomos nós” Responderam os cidadãos
“Fomos nós” Responderam os cidadãos
“Qual é o problema ”Exigiu Esú “, que missão os trazem aqui? Vocês nos proíbem de morar aqui também?”
“Ha !!“ Exclamaram
os cidadãos. “Vocês, finalmente”. Eles chamaram Esú e narraram para ele
a miserável condição de vida em Ifé.
“Disse Esú” Agora
vocês vão retornar a Ifé e trazer os reparos por terem apedrejado minha cabana:
2 ratos do mato, 2 peixes secos e todas as outras coisas em dois.”
Eles voltaram a Ifé
com a intenção de providenciar os reparos necessários. No processo eles relataram ao Rei que havia um
raio de esperança no “Meio do Nada.”
Uma certa pessoa
que falou com eles exigiu reparações deles. O Rei respondeu que suspeitava de
que Orúnmilá também estivesse na companhia de seu interlocutor. Os cidadãos
deveriam retornar para a floresta com as reparações requeridas e relatar os
desenvolvimentos. Entretanto, antes dos cidadãos retornarem, Akale (Esú)
foi ao encontro de Orúnmilá.
“Há um
desenvolvimento interessante”, ele disse.”Um dos cidadãos de Ifé que veio aqui
apedrejou minha cabana. Eu me retirei,
ouvi seus contos de aflição e antes de prometer qualquer coisa eu ordenei
reparações pelas suas transgressões. O que nós faremos se eles voltarem com as
reparações?”
Orúnmilá levou
consigo Esú para relatar a situação para Obàtálá, que é chamado de
Elegbe(O Adepto)
Desta vez Orúnmilá disse:
“Obàtálá, por favor
escute. Esú acabou de me contar
que os Cidadãos de Ifé vieram aqui, e sua história é cruel, muito cruel. O
desastre é iminente a não ser que façamos algo para ajudar.”
Obàtálá respondeu:
“Realmente! Mas você sabe, Orúnmilá, que
desde o nosso exílio aqui eu fechei as comportas de chuva. Nenhuma gota irá cair na terra até que o mundo
todo seja destruído. Eu não vou escutar
nenhum apelo.”
Apesar de muitas
tentativas de Orúnmilá e Esú, Obàtálá
se recusou a mudar de idéia.
Foi quando Orúnmilá
disse essas pesadas palavras:
Obàtálá, você deve
retornar ao seu trabalho:
O ferreiro molda o
ferro uma e outra vez
Até estar reto e
perfeito
O barbeiro ainda
não terminou o seu trabalho
Até que atrás e os
lados não estiverem aparados
Você deve retornar
ao seu trabalho interminável
Gerações de reis
reinaram na terra
Mas ainda não vi um
que rivalize este
Que rivalize Obàtálá,
Rei de todos os Orisá
Real Artífice da
Perfeição
Que veio do céu mas
que localizou sua casa terráquea na cidade de Iranje
Ele sozinho tem o
poder de fechar os portões da chuva
Ele sozinho criou a
cúpula branca do céu
Ele criou as
espécies de rato para durar para sempre
Ele criou as
espécies de peixes para durar para sempre
Ele criou as
espécies de pássaros para durar para sempre
Ele criou as
espécies de feras para durar para sempre
E ordenou que a
espécie do homem nunca fosse destruída.
Perplexo nestes
elogios sutis, Obàtálá respondeu:
“Na verdade, Orúnmilá,
na verdade você recontou muita história.
Nada mais resta a
não ser aceitar seus apelos”
Conseqüentemente
quando os cidadãos de Ifé voltaram com as reparações, Orúnmilá perdoou-os, Obàtálá
perdoou-os e Esú perdoou-os. Com as reparações, um sacrifício de
indenização foi cumprido.
Acerca disso os
três adivinhos e os cidadãos voltaram a Ifé dançando e alegrando-se de que a
cidade fora salva do desastre.
Daquela vez a
cidade de Ifé se expandiu em várias direções até que englobou todo o mundo.
OBÀTÁLÁ, ESÚ E ORÚNMILÁ
OBÀTÁLÁ
O Orisá de paz, harmonia e pureza. Ele é o pai
da maioria dos orisá e o criador da humanidade. Ele é o dono da criação.
Ele representa claridade, justiça e sabedoria. Tudo o que é branco na terra
pertence a ele: a neve, as nuvens brancas, os ossos, o cérebro, o algodão. Obàtálá é o sol e é também a chuva que cai
para fertilizar a terra. É o dono da argila e da criação, onde molda os
seres humanos em barro.
"o grande orisá", ocupa uma posição
única e inconteste do mais importante orisá e o mais elevado dos Deuses
Yorubás.
Senhor do silêncio, do vácuo frio e calmo, onde as
palavras não podem ser ouvidas. Pode ser
lento como um caramujo, todo de branco como seu ritual exige, e também ser
enérgico e guerreiro, em todas as versões, é Obàtálá , o rei do pano branco.
ESÚ
Esú foi criado por OLÓDÙMARÈ como um Orisá especial de maneira tal que ele deve
existir em tudo e residir em cada pessoa. Foi dessa matéria primordial e
divina da qual, posteriormente, ele fez todos os Orisá. Assim, Esú é o primeiro ser criado.
Esú é conhecido como "Esú Agbá”, o Ancestral primordial, e seus
assentamentos mais antigos e tradicionais eram simples pedras de laterita
vermelha. Esú é por
excelência o símbolo da existência diferenciada e, em conseqüência disso, o elemento
dinâmico que leva ao movimento, à transformação e ao crescimento. Ele é o principio dinâmico de tudo que existe
e do que virá a existir. Esú é a
energia absoluta da oportunidade!
Esú é o primeiro a ser cultuado, e isso se explica
devido ao seu papel de energia condutora, propulsora, recapacitadora e
reconstituidora. Sem Esú, tudo
estaria paralisado, estagnado, sem desenvolvimento.
É Esú quem faz cumprir o equilíbrio de tudo que
existe. É o equilíbrio que permite a multiplicação e o crescimento.
ORÚNMILÁ
Orúnmilá é o Orisá Senhor da sabedoria
e do conhecimento, que tendo adquirido o direito de viver entre o céu e a
terra, tudo sabe e tudo vê na totalidade dos mundos, transcendendo espaço e
tempo.
Foi testemunha da
criação universal e detém o conhecimento do passado, presente e futuro do
destino de todos os habitantes da terra e do céu.
Na Terra, Orunmilá
é quem apresenta o destino ao reencarnante por ocasião da seu nascimento . Conhece todos os destinos e como propiciar o
sucesso em todos os âmbitos, além de revelar o Orisá pessoal de cada um.
Orúnmilá
é a soma da sabedoria suprema, a vida e a morte, o nascimento da natureza, a
visão total do mundo e da existência estabelecendo normas éticas que irão
comandar as sociedades e os homens. É o
equilíbrio que ajusta a força que conduz a sustentação do planeta. Orúnmilá representa a antiga sabedoria do
Culto Yorubá.
Uma modalidade
orácular mais popular é o Opelé Ifá.
Apenas sacerdotes iniciados no culto de Orúnmilá - os Oluwo Ifá e
Babalawo – são credenciados para utilizar esses oráculos. Todo
o corpo filosófico da religião yorubá se resume nos signos de Ifá